Brasil

Vice de Bolsonaro diz apropriação de salários de funcionários dos gabinetes de Jair e Flávio Bolsonaro é uma "burrice ao cubo

O general Hamilton Mourão vai se tornando cada vez mais uma voz crítica e divergente no governo de transição de Bolsonaro. O vice-presidente eleito atacou mais uma vez o comportamento dúbio de seu cabeça de chapa, ao dizer que ele deveria ter falado antes sobre a movimentação bancária do motorista Fabrício Queiroz. O general entende que a omissão de Bolsonaro eleva a pressão sobre o novo governo.

O jornalista Bernardo Mello Franco,do jornal O Globo, destaca a fala literal de Mourão: "ele demorou a falar. Podia ter falado antes. Esperou aumentar a pressão."

Segundo Mello Franco, "o vice cobra explicações de Queiroz, que era lotado no gabinete do deputado Flávio Bolsonaro. Ele defendeu a investigação do caso e a punição dos envolvidos."

Mello Franco lembra a crítica anterior de Mourão ao governo do qual faz parte, ainda mais ácida: à revista 'Crusoé', Mourão disse que a eventual prática de caixinha no gabinete de Flávio Bolsonaro seria 'burrice ao cubo'. Ele ressalvou que ainda 'não há elementos para emitir um juízo de valor sobre o caso'."

Queiroz foi flagrado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com uma movimentação de R$ 1,2 milhão em sua conta, no ano de 2016.  Entre as movimentações que constam do relatório está um cheque de R$ 24 mil pagos à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Apesar da movimentação milionária, ele mora numa casa pobre na zona oeste do Rio.

O relatório do Coaf também cita que a conta de Queiroz recebeu repasses de oito funcionários e ex-funcionários do gabinete de Flávio. O Ministério Público do Rio já tem procedimentos em curso, que correm sob sigilo, para investigar possíveis irregularidades cometidas por servidores da Assembleia, com base no relatório do Coaf. O MP não esclarece se as movimentações financeiras de Queiroz estão sob investigação, segundo o jornal O Globo.

FILHA GANHAVA R$ 8 MIL

A filha do policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro que funcionava como um "caixa" do clã Bolsonaro, também apareceu no pente fino do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras); Nathalia Queiroz é personal trainer de "famosos". Como o pai, ela foi exonerada em 15 de outubro, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, ação que é interpretada no universo político como indicação de que a família Bolsonaro foi informada as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal.

A reportagem do jornal Folha de S. Paulo narra o susto que deve ter sido para os alunos de Nathalia saberem de seu cargo no gabinete de Brasília: "até a última semana, os 15 mil seguidores do Instagram da personal trainer Nathalia Queiroz, 29, não deviam imaginar que a professora acumulava um cargo no gabinete do deputado federal e presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL-RJ)."

E explica: "Nathalia aparece em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que identificou movimentações financeiras atípicas do policial militar Fabrício Queiroz, seu pai e ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo."

No mês de dezembro de 2016, Nathalia ingressou na Câmara dos Deputados, em Brasília, como secretária parlamentar do pai de Flávio, o deputado federal Jair Bolsonaro. Em janeiro de 2017, seu salário líquido foi de R$ 8.752,58. Menos, portanto, que os R$ 9.207, líquidos que teria recebido como última remuneração na ALERJ, conforme informou Lauro Jardim, em sua coluna de O Globo – Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete família de PM monitorado pelo Coaf. (Na página de transparência da ALERJ aparecem os salários de 2017 e 2018).

Ao mesmo tempo em que se dedicava como secretaria parlamentar do hoje presidente eleito, Nathalia conseguiu tempo para trabalhar como professora – provavelmente personal trainer – em uma academia de ginástica. Durante o ano de 2016 e alguns meses de 2017 ela prestou serviços também à uma academia localizada na Barra da Tijuca.