No dia 18 deste mês, o Hospital e Pronto Socorro da Criança, em Manaus, foi cenário de grande emoção: Letícia Kerollen de Souza Oliveira recebeu alta e, finalmente, pôde ir para casa depois de passar 12 anos internada. Ela tem 14 anos de idade.
O diagnóstico de Atrofia Muscular Espinhal (AME) foi feito quando ela tinha 1 ano e 7 meses e morava com os pais em Coari, no interior do Amazonas. Os primeiros sintomas vieram seguidos de convulsões, desmaios, dificuldade para respirar. Letícia teve de viver durante nada menos que 8 anos na UTI.
A doença é irreversível e exige aparelho de respiração, sugador, sonda alimentar e fraldas, além do acompanhamento de profissionais qualificados como enfermeiro, terapeuta, psicólogo e fonoaudiólogo. O tratamento domiciliar só será possível graças ao programa Melhor em Casa, que disponibiliza a equipe multidisciplinar aos pacientes contemplados.
Letícia saiu raras vezes do hospital. Quando deixou a UTI, foi acompanhada pela equipe médica a um shopping e à igreja, por ocasião do Natal. Fora isso, ela só pôde experimentar breves passeios na frente do próprio hospital.
Apesar do desafio quase sobre-humano de crescer sem poder sequer respirar sem ajuda de aparelhos, Letícia foi uma criança alegre e otimista. A equipe procurou garantir a ela “máximo de humanização possível”, como contou a fisioterapeuta Morgana Peixoto:
“Ela estuda, tem aulas no quarto e faz provas. Ela é muito inteligente. Ama pintar as unhas, passar maquiagem, fazer ‘chapinha’ e usar laçinhos. É uma menina normal, só não tem os movimentos. Todas as crianças aqui [com a mesma condição] têm a face 100% paralisada, mas a Letícia consegue sorrir. Ela responde muito bem ao tratamento de fisioterapeuta e fonoaudiologia”.
A alta hospitalar, que parecia impossível algum tempo atrás, emocionou o hospital inteiro.
Quando Letícia e a mãe entraram na ambulância que finalmente as levaria para casa, as lágrimas e as palmas irromperam misturadas e sonoras na porta do hospital. Em casa, a recepção foi uma festa com direito a muita música e grande presença de familiares, amigos e funcionários do hospital.
A mãe de Letícia, Irlene, resume assim a alta hospitalar da filha tão especial: “É a realização de um sonho. Graças a Deus e a todos do hospital, que cuidaram dela desde bebezinha”.