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RESIGNAÇÃO

 

Vive-se por se fazer necessário viver, 

Morre-se por se estar determinado um dia morrer. 

Em meio a este começo do surgido, 

E o fim inesperado ou com algum aviso, 

Nossos espasmos de vontade 

Em meio aos ocasos diários de efemeridade 

E a percepção de um grande tédio na eternidade. 

Não se julgue haver aqui verdade, 

Pois que são meros retalhos históricos de percepção, 

Nada mais, a nulidade a querer ser algo  

E por isto insiste em deixar seu testemunho para o nada. 

Assim se vive a cobrir-se por objetos  

Que permitem ocultar ao sujeito. 

Eis que no ser ou não ser deste tal sujeito, 

Se brinca de haver possível interioridade,  

Quer se crer numa consciência, 

Quer se crer num Propósito maior. 

Mais do que os desejos do corpo, 

Clamamos por significados para alma. 

Anestesiados e meio que tolos os que não percebem, 

Tolos, mas felizes com seu jogo lúdico, 

Que apenas vive, mas nada questiona. 

E então questionar parece até ser solução, 

Mas qual ledo engano. 

É apenas uma tentativa de retirar o véu que a tudo encobre, 

Para descobrir que talvez não exista graça no que está encoberto. 

São necessárias esperanças e ilusões postas à mesa. 

Tudo se faz tão urgente, 

Para de momento para outro, 

Ter apenas por restar se curvar a resignação. 

Ora, bendita resignação que evita implodirmos, 

Fragmentos de nervos e músculos,  

E por detrás de tudo a cara óssea do crânio, 

Com seus dentes ordenados parecer a rir. 

Eis que então que se faz necessário um sentido. 

Mas qual sentido? Por que haveria um sentido? 

Mas um eco na consciência nos faz insistir, 

E assim é, até que nos vemos de repente sem movimento. 

Guardam-se letras, palavras e frases, 

Recolhe-se a palheta de tintas, 

Oculta-se os pincéis em alguma gaveta perdida. 

E não se sabe se aqui existe um punhado de reflexões, 

Ou um querer nocauteado de prece. 

Pois que apenas ao fundo de tudo, 

Vive-se e morre-se, 

Então não nos cabe sucumbir antes da hora. 

Eis que a vida é antes de tudo, resignação