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AS INFINITAS PÁGINAS DO TEMPO
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- Publicado em Terça, 29 Novembro 2022 13:27
- Escrito por Carmela
Velha imagem,
Ponteiros de um relógio,
Ponteiros que são como que lâminas.
Finas lâminas a riscar o coração da alma.
Eis que tudo ante o correr da vida se faz fugaz,
Eis que parece ser fogo feito de brisa e vento,
Pois que não habita a matéria sensível,
Mas um etéreo qualquer,
Um intangível de ser,
Que habita algum lugar perdido,
Que por não ser encontrado,
Não tem endereço.
Assim podendo estar em qualquer lugar.
Quanta sede nossa relatividade tem de absoluto!
E eis que ela parece não ter perspectiva de ser saciada.
Apenas ficamos num contínuo estado protelatório,
Num estado paliativo
Em que o corpo se faz vivo
Até o seu derradeiro momento.
E em não querendo abstrair,
Isto acaba por se fazer compulsório.
Produz um transcendente por indução.
E nós, reféns dos sentidos
Nos confundimos com emoções
E uns tantos outros fragmentos de significados.
Eis que a graça da razão é nos aliviar do caos,
Eis que sua contraindicação é a perda do encanto.
Eis que as metáforas são nevoas das verdades,
Se absolutas ou relativa?
Não sei, como poderia saber?
Eu que sou limite,
Haveria de ter capacidade
De entender o que parece ilimitado?
Mais uma vez, faz todo sentido,
Sentir que apenas protelo o inevitável.
Lembro uns tantos significados para o verbete destino,
Fico a pensar: até onde vai o livre arbítrio?
Até onde existe a predestinação?
E eis que vago em um vazio muito ocupado,
Eis que no silêncio existe presença,
E, portanto, eis a contradição,
Pois que em parte a ausência tem identidade.
Fluem as horas do dia,
Minutos e segundos
Escorrem pelos dedos
Como que fina areia.
E eis que vejo imagem de deserto,
Eis que ao fundo parece haver um oásis,
Ou terminaria ao final num grande mar,
Em um oceano.
Eis que me vejo em grão de areia,
Em gota da água.
Eis toda minha liberdade
E toda a minha prisão.
Mas o momento é de fuga,
Mergulhar numa aurora
Fingindo nascer para o mundo,
Para depois furtivamente
Cobrir-me com o crepúsculo de uma tarde,
E encontrar pouso no leito de minha alma.”