A Assembleia Legislativa do Território de Camberra, a capital daAustrália, aprovou uma lei queobriga os sacerdotes católicos a romperem o sigilo da confissãonos casos em que algum penitente venha a lhes confessar ter cometidoabusos sexuais.
Nesta semana, o Padre Michael Whelan, pároco da Igreja de St. Patrick em Sydney, declarou à mídia local que ele e vários outros padres estão dispostos aenfrentar a cadeiase for preciso, masnão vão trair o segredo da confissão.
“O Estado vai exigir de nós, sacerdotes católicos, algo que vemos como o crime mais grave. E eu não estou disposto a fazer isso”.
Questionado se a “Igreja está acima da lei”, o padre respondeu que não, mas destacou quea lei tampouco está acima dos direitos humanos básicos. E foi bem claro: “Quando o Estado tenta intervir em nossa liberdade religiosa, ele prejudica a essência do que significa ser católico. Nós resistiremos”.
Outros territórios da Austrália também devem promover a implementação de legislações semelhantes. A este respeito, o bispodom George O’Kelly, da arquidiocese de Adelaide, observa: “Os políticos podem mudar a lei, mas nós não podemos mudar a natureza do confessionário, onde acontece um encontro sagrado entre o penitente, que é alguém que busca o perdão, e um sacerdote que representa Cristo”.
Ele acrescentou que não se devem confundir os âmbitos civis e o âmbito sagrado. “O segredo de confissão está na área do sagrado. O compromisso com a proteção das crianças e os ambientes seguros permanece inabalável. Nossos sacerdotes são conscientes da sua obrigação de denunciar o abuso infantil e participam de uma capacitação regular desde 2007, assim como os nossos funcionários da igreja e os voluntários”.
PERSEGUIÇÃO
A nova lei é apresentada como um modo de forçar os padres a denunciarem abusadores de crianças. Esta suposta lógica, no entanto, é muito frágil:não garante a segurançadas crianças e aindaatropela o direito elementarà liberdade religiosa e de consciência, porque, além de atingir os padres, atinge também os penitentes católicos, que deixariam de ter garantido o segredo daquilo que confessam a Deus mediante o sacerdote.
Como se não bastasse, a medida quedesvia do governo a responsabilidadeprincipal de zelar pelas crianças e pelo seu enquanto medidas realmente eficazes deixam de ser implementadas. A grande maioria dos abusos sexuais, na Austrália e no planeta inteiro, acontecedentro das residências, perpetrada por familiares. O que o governo da Austrália pretende fazer a este respeito?
A Igreja católica vem adotando medidas cada vez mais duras, impulsionadas pela política detolerância zerodosPapas Bento XVI e Francisco, julgando e condenando de padres até arcebispos por esse crime e por várias outras formas de abuso. O governo da Austrália tem tomado medidas do mesmo calibre em relação às suas próprias estruturas?
Vários parlamentares australianos reconhecem que essa lei é descabida. O deputadoAndrew Wallconcorda que a obrigatoriedade de denunciar abusadores à polícia não pode ser estendida ao confessionário: “Isso interfere significativamente na liberdade de associação de um indivíduo, na liberdade de expressão e na liberdade de direitos religiosos”.