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Famílias separadas pela Guerra da Coreia se reencontram 70 anos depois

Milhares de pessoas foram separadas e não tinham notícias de familiaras

Dezenas de pessoas cruzaram a fortificada fronteira da Coreia do Sul com a Coreia do Norte nesta segunda-feira (20/08) para se encontrarem pela primeira vez com familiares que não viam desde que foram separado pela Guerra da Coreia, há quase 70 anos.

Os encontros, os primeiros em três anos, foram promovidos pelas duas Coreias no resort norte-coreano de Diamond Mountain. Muitas famílias consideram os eventos uma oportunidade única de se reverem antes da morte de seus membros mais idosos. Mais da metade dos sobreviventes tem mais de 80 anos. O participante mais velho deste ano, Baik Sung-kyu, tem 101 anos de idade.

Diversos participantes são refugiados de guerra que nasceram na Coreia do Norte e se reencontram com irmãos ou crianças que deixaram para trás em sua jornada para o sul.

A Guerra da Coreia, que teve início em 1950 e se estendeu até 1953, separou milhões de pessoas, incluindo irmãos, pais e filhos e maridos e esposas. O conflito foi encerrado por um armistício, não com um tratado de paz, o que deixou as duas Coreias tecnicamente em guerra até os dias de hoje. A península ficou dividida por uma zona impenetrável, e todas as trocas entre civis foram banidas, até mesmo de notícias entre famílias.

Ao longo dos próximos três dias, 89 famílias passarão cerca de 11 horas juntas em um total de seis encontros, na maior parte do tempo sob a supervisão de agentes norte-coreanos. As famílias terão três horas de privacidade antes de sua separação final na quarta-feira.

Nesta segunda-feira, Lee Keum-seom, de 92 anos, pôde abraçar seu filho, Ri Sang Chol, pela primeira vez desde que ela e sua filha pequena foram separadas dele e de seu marido durante a fuga. Na época, o garoto tinha apenas quatro anos de idade. Lee gritou o nome do filho, agora com 71 anos, antes de abraçá-lo, ambos sucumbindo à emoção. Ele mostrou à mãe fotos de sua família no norte, incluindo do falecido marido de Lee, dizendo a ela: "Esta é uma foto do papai."

O sul-coreano Park Ki-dong, de 82 anos, encontrou seus dois irmãos que vivem na Coreia do Norte e trouxeram consigo dezenas de fotos da família. Park Sam Dong apontou para uma das imagens dizendo ao irmão: "Este é você." Park Ki-dong olhou para a foto em silêncio, mergulhado em pensamentos, enquanto a irmã norte-coreana secava lágrimas dos olhos.

Reaproximação

Desde os anos 2000, as duas Coreias realizaram 20 rodadas de reencontros. Mas os eventos foram interrompidos há três anos, desde que a Coreia do Norte acelerou seu programa nuclear e de mísseis balísticos, levando a uma deterioração das relações diplomáticas. Com a recente reaproximação bilateral, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, concordaram, durante uma cúpula em abril, em retomar os encontros entre familiares. As duas Coreias têm discutido cooperações em diversos campos.

Na Coreia do Sul, um sorteio decide quem poderá participar dos encontros. Na Coreia do Norte, imagina-se que os participantes sejam selecionados com base em sua lealdade ao regime. Seul estima haver entre 600 mil e 700 mil sul-coreanos com familiares vivendo no norte.