Prédio que desabou foi sede da PF em São Paulo e já deteve o Nobel da Paz Pérez Esquivel
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- Publicado em Quarta, 02 Maio 2018 13:51
- Escrito por administrador
Paulo Pinto/Fotos Públicas
Na madrugada desta terça-feira (01/05) um prédio de 24 andares localizado no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, desabou após um incêndio. A antiga sede da Polícia Federal (PF), localizada na esquina da rua Antônio Godoy com a Avenida Rio Branco, já deteve o Nobel da Paz Pérez Esquivel e atualmente era ocupada pelo Movimento de Luta Social por Moradia.
O argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, foi detido em 1981 no edifício da Antônio Godoy, então sede da Polícia Federal, após criticar a Lei de Anistia, criada em 1979. A PF, então dirigida pelo delegado Nélson Marabuto, foi cercada por centenas de pessoas que protestavam contra a detenção. Preocupado com a repercussão que o caso poderia gerar, Paulo Maluf, então governador do estado, ligou para a PF pedindo que Esquivel fosse solto. Dom Paulo Evaristo Arns, que na época ocupava o posto de cardeal arcebispo de São Paulo, também exigiu a soltura do argentino, que foi libertado horas depois.
Dois anos mais tarde, em 1983, a sede da PF voltou ao noticiário após o anúncio da prisão do mafioso italiano Tommaso Buscetta. Agora com a PF sob as ordens do delegado Romeu Tuma, Buscetta foi encaminhado aos Estados Unidos, onde delatou organizações italianas. Buscetta foi um dos mais importantes membros da máfia siciliana Cosa Nostra.
Mas foi em 1985, quando as ossadas do carrasco nazista Josef Mengele foram descobertas em um cemitério da Grande São Paulo, que o edifício ganhou a atenção central da mídia brasileira. A polícia da Alemanha passou a desconfiar da presença de Mengele no Brasil depois que cartas destinadas ao seu filho foram apreendidas. Por meio de um relatório encaminhado pelo governo alemão e pelo setor de inteligência dos Estados Unidos, Tuma, ainda chefe da PF em São Paulo, tomou conhecimento do caso. Após a exumação, foi constatado que Mengele havia mesmo sido enterrado na cidade usando um nome falso. A sede da PF foi usada para colher depoimentos sobre o caso e tentar entender qual foi o trajeto do nazista no Brasil.
Ocupações
Após a sede da PF ser transferida para a Lapa, o edifício passou a alojar o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), que permaneceu no local somente até 2009, ano em que o prédio ficou ocioso. De lá para cá, em diversos momentos o edifício serviu como ocupação de movimentos sociais que reivindicam o direito à moradia. O local já foi ocupado pela Frente de Luta por Moradia (FLM) e pelo Movimento de Luta por Moradia Digna. No entanto, segundo informações do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), o edifício atualmente estava sendo ocupado pelo Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM).
Em 2015, o prédio foi colocado à venda pela União, em um edital preparado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Segundo o documento, o preço mínimo de venda na época foi de R$ 21,5 milhões. A licitação foi aberta com o objetivo de reduzir despesas da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). No entanto, o prédio acabou não sendo vendido e a licitação foi cancelada.
CRUZ VERMELA E DOAÇÕES
Desde o início da manhã destaterça-feira,01 de maio, quando teve início o trabalho de recolhimento e triagem de doações para as vítimas do prédio que desabou no Largo do Paissandu, os carrinhos de transporte de doações da Cruz Vermelha não pararam de correr pela sede da entidade com as dezenas de itens que ininterruptamente estão sendo trazidos pelos moradores da cidade. "A resposta da população foi excelente e surpreendente", disse Aline Rosa, gerente de Projetos Sociais e Voluntariado da Cruz Vermelha de São Paulo. "As doações ainda estão chegando, mas já contabilizam mais de 5 toneladas e devem ser suficientes para dar o apoio necessário para essas famílias nesse momento tão sensível", completou.A maior parte das doações recebidas na sede da entidade foram de roupas e alimentos, mas há também uma quantidade significativa de fraldas, água e itens de higiene pessoal. Nesta operação a Cruz Vermelha contou com o trabalho de 65 homens e mulheres que fazem parte do quadro de voluntários da instituição.