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SOMBRAS DE LUZES


 

Minha alma atemporal 

Zomba de mim, 

Ri com ironia  

Das minhas migalhas de cotidiano. 

Vê o distante,  

Para depois ocultar. 

Me envia mensagens, 

Garrafas de náufrago 

E eis que o naufrago sou eu. 

Não é as águas salgadas do mar, 

Mas um oceano de retalhos. 

Relíquias de memórias, 

Que de tão ressignificadas, 

Já não sei se verdadeiras, 

Ou meros mitos pessoais de mim. 

Não me lamento de nada,  

Não há tempo para isto, 

Aliás, a sensação é que nunca há tempo. 

Pois é a escassez que faz surgir a identidade. 

Qual face é a minha  

Dentre as tantas imagens 

Que os espelhos refletiram?  

Deleito com um nada imaginário, 

E no vazio pareço encontrar o todo, 

Tal como a insignificância 

Parece nutrir toda a grandeza da vida. 

Nada eu explico, pois não quero explicar, 

Não quero definir, pois me diverte o indefinido. 

Melhor do que a criação, 

É o momento da potência criativa. 

Brinco entre brisas e vendavais,  

Entre chuvas finas e tempestades. 

E penso que o fogo da fênix que me assombra 

É antes frio gélido que queima 

Do que calor que aquece.  

E eis que neste encontro comigo, 

Me perco num fluir sem fim 

Em fuga me liberto de metas e objetivos 

Deixo de me preocupar se existe um propósito. 

Existo e ponto, até que não mais esteja.  

E rio de quem me pensa perdido 

Pois tenho a convicção de assombrar. 

Sombras feitas de velhas luzes,  

Lampião de chama bruxuleante, 

A mesclar-se em luz de raio laser 

Numa explosão de tempo  

Em que partes de passado 

Se encontram no futuro 

E na loucura de ser 

Faço pousada na lucidez  

Em consciência 

De suposto presente 

Onde habito momentaneamente.