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PARA SEMPRE, MARIELLE

Por Fernando Dezena

O país está de luto pela morte da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro e seu motorista. Foram assassinados por um sistema de repressão a movimentos sociais e de esquerda que varre a América Latina e vários países do mundo. Nelson Barbosa, renomado economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, nesta semana, foge de seu artigo econômico e fala sobre política e democracia. Relembra uma frase de Kennedy: “quando liberdades individuais estão sob ameaça, não pergunte o que as instituições podem fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelas instituições”. A degradação dos partidos políticos, do judiciário, do Ministério Público, deixa-nos perplexos. A crescente violência contra as esquerdas e a intolerância com os negros, pobres e as minorias, é assustadora. Basta olhar as medidas econômicas que foram tomadas após a deposição de Dilma Rousseff. Todas vieram para punir, de certa maneira, a classe trabalhadora, como se fosse ela a culpada pelas mazelas institucionais. Bradam: OS DIREITOS TRABALHISTAS PRECISAM SER FLEXIBILIZADOS! A APOSENTADORIA É O GRANDE PROBLEMA PARA SANEAR O ROMBO FINANCEIRO DA NAÇÃO! OS SINDICATOS (DOS EMPREGADOS) PRECISAM ACABAR! Não se vê um único passo, por exemplo, no sentido de se taxar as grandes fortunas, dos lucros e dividendos. Assunto já amplamente debatido e adotado em países que não tem medo de olhar para dentro de si. Não se vê um único passo na diminuição da, novamente, crescente, desigualdade social. Podem dizer: “Pô Fernando, esse discursinho não cola mais.” Pois é, justamente dessa intolerância é que estou falando. No caso do Brasil, a charge do jornal Le Monde na semana passada, deixou clara em que nos tornamos. Precisamos reinventar as esquerdas e repensar a dinâmica social na era Trump.

A violência contra as classes mais pobres, negros e minorias é crescente. A truculência contra protestos pacíficos é descabida. As denúncias se avolumam. Os atos vão desde o exército pelas ruas do Rio de Janeiro, legitimando atos de brutalidade de todos os órgãos de repressão, até uma simples empresa de limpeza na cidade de São Paulo, a INOVA, em que seu funcionário acredita ter o direito de jogar água durante uma madrugada de inverno (naquela noite fez -5 graus) em um morador de rua. Questionada, a autoridade constituída, simplesmente perguntou se haviam filmado. Se não, não levaria em consideração. Na semana passada outro morador de rua, que dormia na calçada no centro da cidade, foi lavado junto com o asfalto, como se não fosse um ser humano, por outro funcionário da mesma empresa. Desta vez, devidamente registrado em vídeo por um repórter da CBN.

O que ocorre na comunidade do Acarai, no Rio de Janeiro, é a ponta de um problema monstruoso. Durante a ditadura militar, principalmente nos primeiros anos pós 64, qualquer “milico”, de qualquer delegacia, em qualquer rincão do Brasil (com o devido respeito aos bons policiais), se achava no direito de ameaçar, torturar e matar em nome da Revolução. Os Generais, questionados pelas ocorrências, ou desmentiam, ou justificavam os excessos, mas não os puniam para o bem maior, varrer da face do Brasil os corruptos e os comunistas. Depois, os Generais gostaram de tais atitudes e montaram os mais terríveis centros de tortura e extermínio contra quem tivesse ideias dissonantes. Bolsonaro está aí para conduzir o rebanho de brasileiros descrentes! A que ponto chegamos, meu Deus!

Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados. Em nome de quê? Fico atordoado neste momento dramático da vida brasileira. A Marielle e o Anderson personificam a brutalidade com que milhares de pessoas são tratadas nas comunidades carentes pelo estado, justamente constituído para protegê-las. É hora da intolerância ser tratada como doença a ser extirpada, é hora de lutarmos para que o estado brasileiro veja cada cidadão como o cidadão, independe da cor, da raça, da crença, do poder econômico, o CEP de sua rua ou das verdades que defenda.

Luiz Fernando Dezena da Silva

Bacharel em Direito - UNIFEOB

MBA em ADM de Empresas – FGV

MBA em Gestão de Pessoas – UNIP

Membro da Academia de Letra de São João da Boa Vista

Poeta, contista e cronista.