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INVERNO
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- Publicado em Sexta, 18 Maio 2018 14:37
- Escrito por FERNANDO DEZENA
CRÔNICA DO DOMINGO
INVERNO
O frio tarda a chegar. O dia das mães ficou na semana, bem que tive varias afirmações dizendo, em crônica passada, que todos os dias é dia das mães, com a que concordo. Mas, é só uma referência para que possamos parar e pensar sobre o assunto. Posso dizer, voltando ao tempo, que não faz mais frio como antigamente. É certo, não coisa de idoso, saudosista. Lembro-me que, quando trabalhava em Poços de Caldas e morava em Águas da Prata, subindo todas as madrugadinhas a Mantiqueira, nesta época do ano, já era possível ver pontos de geada nas encostas da serra. Enrolado no cachecol, com o gorro a proteger a calvície insipiente, fugia do vento que entrava pelas frestas do ônibus. O transporte público, embora sem a qualidade que queremos, é bem melhor do que o daquela época. Quando o sol nascia devagarzinho, por detrás da imensidão dos elevados, o gelo que cobria parte da vegetação derretia e a paisagem adquiria rara beleza.
Todas as estações têm seu charme, não é verdade? O inverno remete-nos à introspecção, à vida caseira, ao toque familiar, aos caldos e comidas quentes. Pede também um bom vinho. A Luciane, minha esposa, tem uma mão especial para sopas. Esta semana, em debate na cozinha, cheguei à conclusão que não consigo emagrecer, apesar dos seguidos regimes, devido à sopa. Briga comigo: “Precisa exagerar?” Mas à noite, em casa, depois de um dia de trabalho, uma sopa bem feita, fumegante no fogão, leva qualquer um ao delírio. Adiciona-se um bom azeite, queijo e torradas, pronto, está feita a desgraça das balanças.
Tudo bem, não precisamos também brigar por uns quilinhos a mais. Depois, se exagerou na comida, é só compensar nos exercícios. Neste ponto, a Lu também virou adepta. Isso mesmo, começou a caminhar todas as noitinhas. Chego do trabalho e ela já está pronta com seu tênis novo, sua roupa de atleta, muito justa pro meu gosto, e saímos a bater pernas pelas ruas da Mooca. Ela vai com seu passo firme e eu aproveito para fazer pequenas corridas no trajeto. Isso tudo antes da sopa.
Outra delicia, que só fazíamos em noites de inverno, quando não havia vento e a umidade do ar estava baixa, era as balas de leite. Minha mãe comandava até dar o ponto, um fino fio a sair do caldo vulcânico, os filhos ajudavam a bater a pasta pelando derramada sobre a pia, depois, cortávamos os gomos com a tesoura e deixávamos açucarar para o dia seguinte. É, a vida tem grandes momentos, não importando a estação.
É isso, bom domingo.