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As Frias Pedras Do Templo


 

Realidade e ilusão.

Os sólidos blocos de pedra 

Compondo as velhas e enormes pilastras. 

São senis e fortes colunas  

A sustentarem o prédio,  

Um grande templo. 

Existe um imenso espaço livre  

Aprisionado pelas paredes e o teto. 

É vazio onde habitam seres  

Que carregam no peito graníticos corações. 

É a solidez da rocha  

Que bem representa  

Estas vontades obstinadas e inflexíveis. 

Existe um intenso desejo de pura materialidade,  

Uma expansiva coisificação de tudo. 

Mais do que espíritos  

Parecem guardar dentro de si  

Duras e bem forjadas armaduras. 

Arrojados em prepotência,  

Desprezam a suavidade das aves  

E admiram a força das feras. 

Os temidos predadores  

Que vivem a marcarem o seu território 

Com a sua fétida urina. 

Tudo pela conquista, 

Pouco importa  

Que os conquistados  

Sirvam de capachos para os pés. 

A luta precisa ser vencida,  

Pois ao vencedor  

Cabe ditar as regras  

Do jogo a ser disputado. 

Mais do que qualquer tipo de justiça,  

A conveniência,  

Que leva a perpetuação da vitória. 

Todas as oportunidades  

Sendo transformadas  

Em meras medidas de servil utilitarismo. 

A arrogância alimentando a vulgar prepotência,  

Tendo ouvidos que não querem ouvir. 

A avidez e o delírio  

Levando a adoração  

Por supostas relíquias cheias místico poder. 

O delírio febril de olhos  

Que de tão iludidos  

Pelo apego aos objetos não querem ver. 

Posseiros daquilo que não lhes pertencem,  

Procuradores desautorizados do que falam. 

Donos do realismo  

Que alimenta continuamente  

O fluxo de recursos para seus ávidos bolsos. 

Dominantes no cotidiano,  

Crentes de fantasias espirituais,  

Iludidos que vivem a iludir aos outros. 

Loucos cujo a insanidade é alimentada  

Pela sede insaciável  

De obter sempre um pouco mais. 

Nunca haverá o suficiente 

Para nutrir tamanha voracidade  

De sustentar o próprio apego. 

Mais que saibam que a lei do Criador  

Suplanta os enganos e deslizes da lei humana. 

Dia haverá que surgirá pequena trinca  

Naquele que supunha-se ser indestrutível templo. 

Esta há de expandir-se  

Na intensidade da sentença punitiva  

Do verdadeiro e único juiz. 

Criará outras tantas,  

Muitas frestas onde luz entrará  

Para o que antes ficara restrito as trevas. 

Será a bendita luz dos astros celestes  

A dissipar a acumulada quantidade de escuridão. 

Será a lembrança distante da criação  

Retornando a dimensão da vida  

Que se pensava inexistente. 

Os convictos mentirosos  

Haverão de defrontarem-se  

Atônitos com a efetiva verdade. 

Falsos piedosos,  

Aduladores da superlativa autoestima  

Hão de ser humilhados por seu orgulho. 

Pseudo profetas,  

Meros conquistadores de glórias  

Pela exploração da boa vontade alheia, 

Hão de ser convocados  

Para trabalharem de fato  

E o trabalho aos preguiçosos é o maior castigo. 

Cordeiros travestidos de lobo serão desmascarados,  

Não conseguiram mais ocultar os dentes. 

Fingidos adoradores da divindade,  

Mostrarão toda a face da sua lapidada hipocrisia. 

As letras que pareciam mortas  

Hão de ganhar vida no despertar da sua alma divina. 

Haverão de tremer as consciências  

Que sabem a lei, mas não a praticam. 

Não terão a justificativa da ignorância  

Para despojá-los das suas efetivas culpas. 

O jugo do corpo sobre alma  

Há de mostrar-se inútil  

E por perderem chorarão como vítimas. 

Serão lágrimas do egoísmo insatisfeito,  

Da perda da posse que iludidos julgavam eterna. 

Generalização das trincas,  

Até que atingem as colunas  

Que julgavam de solidez titânica. 

E o velho templo  

Não resiste mais a falta de consistência física  

Ruindo ante ao próprio peso. 

Produzindo novo cenário,  

O amontoado de assombradas ruínas,  

Sobras inúteis do passado. 

Mas o tempo há de cumprir o seu destino construtivo  

E outros ventos trarão novas sementes. 

E sobre os escombros a vida renascerá,  

Florescerá ali flores e árvores com frutos celestes. 

E a criação divina há de sobrepor-se  

A perversão supostamente construtiva das mãos humanas. 

Será a verdadeira e inspirada poesia divina a ensinar  

E transformar os rascunhos humanos, 

Os imperfeitos e feios rascunhos  

Que a promessa divina  

Há de transformar em poesia de fato.