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Jornalista saudita foi torturado, sedado e esquartejado, indica áudio
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- Publicado em Quinta, 18 Outubro 2018 15:58
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O consulado saudita em Istambul é cercado pela polícia turca; acredita-se que Khashoggi foi assassinado minutos depois de entrar no edifício (Foto: OZAN KOSE / AFP)
O jornalista sauditaJamal Khashoggi morreu minutos depois de entrar no consulado do seu país em Istambul, onde foi buscar papéis para se casar com a sua noiva turca em 2 de outubro, segundo diferentes fontes que tiveram acesso a uma suposta gravação do homicídio obtida pela polícia da Turquia. Relatos da imprensa turca informam que há registros em áudio que provam que o jornalista dissidente foi torturado e sedado no consulado, antes de ser morto e esquartejado.
O “Wall Street Journal”, a partir de informações de um funcionário turco que ouviu a gravação, disse que Khashoggi supostamente foi morto e teve o corpo seccionado no escritório do cônsul geral saudita em Istambul, Mohammad al-Otaibi. Há relatos conflitantes sobre se o diplomata presenciou ou não o homicídio. Segundo o "Wall Street Journal", a gravação registrou uma voz que pergunta se al-Otaibi quer deixar o cômodo, mas ele, que é o representante de mais alto nível de Riad em Istambul, teria ficado para presenciar a execução.
Segundo uma fonte ouvida pelo site “Middle East Eye”, especializado na cobertura do Oriente Médio, Khashoggi apenas foi capturado na presença do diplomata, que teria saído da sala no momento do assassinato. "O próprio cônsul deixou a sala. Não houve tentativa de interrogatório. Eles estavam lá para matá-lo", disse o site.
O homicídio teria durado sete minutos. Ao perceber que seria morto, Khashoggi teria gritado em desespero, alto a ponto de ser ouvido por testemunhas no andar inferior. Durante o breve interrogatório, seus dedos foram decepados, disse um funcionário turco ouvido pelo "NYT". Os urros só teriam parado após uma substância desconhecida ser injetada no jornalista.
Um dos assassinos do grupo de 15 sauditas enviados a Istambul presumidamente com a missão de eliminar Khashoggi seria o doutor Salah al-Tubaigy, um especialista em autópsias.
A fonte turca afirmou que, enquanto conduzia o desmembramento, al-Tubaigy teria posto fones de ouvido e escutado música. O médico teria recomendado a seus cúmplices fazer o mesmo.
O médico forense Al-Tubaigy é um dos nove suspeitos já reconhecidos, dentre os 15 do grupo, por uma investigação independente realizada pelo jornal “New York Times”. Em uma reportagem produzida por 12 repórteres, em Istambul, Beirute, Nova York, Paris e Washington, o jornal americano mostrou que os suspeitos de serem executores de Khashoggi relacionam-se diretamente ao príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (conhecido pelas iniciais MBS), o que afasta a possibilidade de ser um grupo descontrolado, agindo por conta própria, como foi cogitado pelo presidente americano Donald Trump.
Inicialmente, o príncipe herdeiro e seu pai, o rei Salman, negaram qualquer conhecimento do paradeiro de Khashoggi, afirmando que ele deixara o consulado por conta própria. Em seguida, o próprio "New York Times" e a “CNN” disseram que o reino preparava-se para alegar que a morte ocorrera de modo acidental, como resultado de um interrogatório que deu um errado.
O jornal americano reuniu informações sobre os suspeitos usando softwares de reconhecimento facial, bancos de dados públicos, perfis de mídia social, listas telefônicas sauditas, notícias de meios de comunicação do país árabe, documentos do governo saudita vazados e, em alguns casos, relatos de testemunhas na Arábia Saudita e em países que o príncipe visitou.
Mas a presença entre os suspeitos de al-Tubaigy, o especialista em autópsias, reforça a hipótese de que o assassinato tenha sido parte do plano original.
Al-Tubaigy, que mantinha conta em várias redes sociais, identificava-se no Twitter como chefe do Conselho Científico Forense Saudita e ocupou cargos influentes na principal faculdade de medicina da Arábia Saudita, assim como em seu Ministério do Interior. Ele estudou na Universidade de Glasgow e, em 2015, passou três meses na Austrália como patologista forense do Instituto Victorian de Medicina Forense. Ele tem artigos publicados sobre dissecação e autópsia em unidades móveis.
Embora não exista registro público de um relacionamento entre ele e a corte saudita, é improvável que uma figura tão relevante no primeiro escalão médico saudita fosse participar de uma expedição organizada por um subalterno sem autorização superior, disse o "New York Times".
Al-Tubaigy, cujo nome apareceu pela primeira vez entre os suspeitos há vários dias, não comentou publicamente as acusações. Nenhum dos suspeitos respondeu aos pedidos de entrevista do jornal americano.
Em mais um episódio em decorrência do desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, o ministro francês de finanças Bruno Le Maire desistiu de participar de uma conferência de investimentos na Arábia Saudita. Ele é mais um dos que cancelaram a participação no evento — autoridades de governos e executivos já tomaram decisão similar.
Autoridades turcas disseram acreditar que Khashoggi — colunista do jornal Washington Post, que criticava o reino do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman — fora assassinado dentro do consulado daquele país. Os sauditas, no entanto, negam a acusação.